Feedforward na prática: um guia direto para usar com eficiência

Feedforward é uma conversa orientada ao futuro para ampliar resultados, não para julgar o passado. Em vez de “o que você fez de errado”, trabalhamos “o que podemos fazer diferente a partir de agora”.


1) O que é e quando usar

Definição curta: troca objetiva de sugestões acionáveis voltadas ao próximo passo.

Quando usar

  • Antes de um marco (apresentação, entrega, release, negociação).
  • Em 1:1s de desenvolvimento.
  • Ao redefinir processos/rotinas.
  • Em retrospectivas rápidas de time (“retro” com foco no próximo sprint).

Quando evitar

  • Questões disciplinares ou éticas (use processos formais).
  • Conflitos emocionais acesos (primeiro regule o clima, depois feedforward).

2) Princípios que tornam o feedforward eficiente

  1. Futuro > passado: “Da próxima vez…”
  2. Comportamento observável: descreva ações específicas, não traços de personalidade.
  3. Co-criação: a pessoa/ time escolhe e adapta as sugestões.
  4. Poucas apostas, alta alavancagem: 1–3 sugestões no máximo.
  5. Teste rápido: combine experimento curto e data de checagem.
  6. Tom respeitoso e curioso: perguntas abertas superam afirmações longas.

3) Esqueleto de conversa (7 minutos)

0:30 — Acordo de intenção
“Quero te oferecer ideias para melhorar o próximo [X]. Pode ser?”

1:00 — Contexto e objetivo
“O objetivo é [resultado mensurável]. O que seria um ótimo próximo passo para você?”

2:00 — Ponto forte a alavancar
“Notei que você [força]. Como podemos usar mais disso?”

2:30 — 1–3 sugestões concretas
“Para o próximo [X], testaria:

  1. [Ação 1]; 2) [Ação 2]; 3) [Ação 3].”

0:30 — Escolha do dono
“Quais dessas fazem mais sentido pra você agora?”

0:30 — Experimento + métrica + data
“Então vamos testar [ação escolhida] e checar [métrica] em [data].”

0:30 — Encerramento positivo
“Obrigado por topar. Me diga como posso apoiar na execução.”


4) Linguagem de alto impacto (frases modelo)

  • Abrir: “Posso compartilhar 2 ideias para turbinar o próximo [X]?”
  • Foco no futuro: “Na próxima iteração, priorize…”
  • Especificidade: “Troque [comportamento A] por [comportamento B] nos primeiros 5 minutos.”
  • Co-criação: “O que você manteria? O que vale experimentar?”
  • Compromisso: “Qual primeiro passo você faz até sexta?”
  • Apoio: “Quer que eu revise o rascunho amanhã às 10h?”

5) Exemplos práticos

A) Apresentação executiva (liderança)

  • Objetivo: Decisão em 15 min.
  • Sugestões:
    1. Abra com 1 slide: problema, opção A/B, sua recomendação.
    2. Tempo: 5 min de narrativa + 10 min Q&A.
    3. Antecipe perguntas: anexe apêndice com custo, risco e impacto.

B) Code review (pares de engenharia)

  • Objetivo: Reduzir retrabalho.
  • Sugestões:
    1. Antes do PR, rode checklist de testes críticos.
    2. Divida PRs >400 linhas em módulos.
    3. Use comentários com exemplo de snippet sugerido.

C) Atendimento ao cliente

  • Objetivo: Aumentar satisfação na primeira resposta.
  • Sugestões:
    1. Responder com resumo em 2 linhas do problema do cliente.
    2. Oferecer duas rotas (“rápida” e “completa”).
    3. Encerrar com próxima ação clara e prazo.

6) Roteiro de 15 minutos para líderes (pronto para usar)

  1. 1 min — Alinhe objetivo do ciclo (OKR, entrega, marcos).
  2. 3 min — Pergunte: “Qual resultado quer maximizar no próximo período?”
  3. 4 min — Ofereça 2–3 sugestões “alto impacto, baixo atrito”.
  4. 3 min — Escolha conjunta de 1–2 apostas e defina métrica.
  5. 3 min — Planeje o primeiro passo, donos, e checkpoint no calendário.

7) Checklists rápidos

Checklist do Emissor

  • Pedi permissão e alinhei intenção.
  • Falei de comportamentos e contextos, não de identidades.
  • Dei no máximo 3 sugestões específicas.
  • Combinei experimento e data de revisão.

Checklist do Receptor

  • Reformulei com minhas palavras o que vou testar.
  • Registrei métrica e próximo passo no meu sistema (agenda/board).
  • Pedi o apoio necessário.

8) Como medir impacto

  • Leading indicators (semana a semana): tempo de ciclo, taxa de retrabalho, % cumprimento de acordos de primeira tentativa, NPS interno.
  • Lagging indicators (mensal/trimestral): meta/OKR, satisfação de clientes, qualidade percebida por pares.
  • Hábito: % de 1:1s que terminam com experimento + data; % de sugestões implementadas.

9) Armadilhas comuns (e como evitar)

  • Virar feedback disfarçado: se você revisita o passado para culpar, perdeu o espírito. Traga para o próximo passo.
  • Generalidades: “seja mais estratégico” não ajuda. Troque por ação observável.
  • Lista infinita: priorize 1–2 mudanças.
  • Sem follow-up: marque o checkpoint já na conversa.

10) Formatos prontos (copiar e colar)

Template 1 — Mensagem curta (Slack/WhatsApp/Email):

Posso te mandar 2 ideias para o próximo [X]?

  1. [Sugestão concreta 1]
  2. [Sugestão concreta 2]
    Qual delas você quer testar nesta semana? Topo revisar/parear se ajudar. Checamos na [data].

Template 2 — 1:1 de desenvolvimento:

  • Intenção: “Quero te ajudar a maximizar [objetivo].”
  • Forças: “Você já faz muito bem [força].”
  • Sugestões: “No próximo [contexto], testaria [A] e [B].”
  • Compromisso: “O que você assume até [data]? Como posso apoiar?”

Template 3 — Retro de time (15 min):

  1. Manter: 2 práticas que funcionaram.
  2. Testar: 1 melhoria com dono e métrica.
  3. Calendário: marcar review em [data].

11) Adaptações por contexto

  • Nível júnior: ofereça exemplos e materiais de apoio.
  • Sênior: foque em perguntas catalisadoras e barreiras sistêmicas.
  • Cross-funcional: traduza a sugestão para a linguagem do outro time (UX, negócio, dados).
  • Remoto/assíncrono: conversem por escrito e registrem o experimento no board.

12) Mini-FAQ

Feedforward substitui feedback?
Não. Feedback alinha expectativas e dá visibilidade; feedforward acelera a próxima ação. Use ambos.

E se a pessoa não concordar?
Peça que proponha um experimento alternativo e uma métrica. O dono do trabalho escolhe.

Preciso ter todos os detalhes?
Não. Traga boas hipóteses e negocie o teste mais simples que possa funcionar.

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